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Foto do escritorNatale Molina

DESVENDANDO O VÉU DA AUTOILUSÃO: A importância da verdade.

O interstício entre a percepção que temos de nós mesmos e a realidade do que realmente somos é um tema intrigante e complexo. Com frequência, nos encontramos em duas armadilhas igualmente enganosas e injustas ao nos enxergar: a primeira é acreditar que somos melhores do que realmente somos, adornando-nos com glórias e conquistas que nunca alcançamos. Nessa perspectiva distorcida, nos consideramos merecedores de recompensas e privilégios que não correspondem à nossa verdadeira trajetória. Envolvidos em um véu de autoengano, olhamos para a vida como se ela nos devesse algo, enquanto responsabilizamos os outros por nossas falhas, em vez de enfrentar nossas próprias limitações.

Existem indivíduos convencidos de que todos sentem inveja deles, que acham humilhante começar de baixo ou que se autoproclamam sinceros quando, na realidade, são apenas mal-intencionados e desagradáveis. Essas pessoas não têm consciência de suas próprias falhas, misérias e mazelas, e, assim, acabam se tornando incapazes de reconhecer a necessidade de autotransformação e crescimento.

Por outro lado, a segunda forma de se enxergar, igualmente falha, é cair na armadilha da pseudo-humildade e da ingratidão. A humildade verdadeira não deve ser confundida com baixa autoestima, sentimentos de inferioridade ou autodegradação. Ser verdadeiramente humilde significa viver de acordo com a realidade, aceitando nossas imperfeições com leveza e humor. No entanto, muitas vezes confundimos a humildade com um constante lamento sobre nossas próprias vidas, reclamando de como somos desafortunados e invejando a suposta sorte alheia. Essa postura egocêntrica, que nos mantém focados apenas em nós mesmos, na verdade, revela um sutil orgulho.

É importante reconhecer que, em ambas as situações, somos mentirosos e injustos conosco mesmos. A verdadeira justiça implica dar a cada um o que lhe é devido, o que inclui darmos a nós mesmos também o que nos é devido. Podemos reconhecer nossos pontos fortes e conquistas sem cair na armadilha da arrogância, assim como podemos reconhecer nossas fraquezas e limitações sem nos fazer de vítimas indefesas.

Se pararmos para refletir, perceberemos que, ao longo de nossas vidas, temos oscilado entre esses dois extremos e, em ambos os casos, acabamos atravessados pelo sofrimento. Apenas a verdade pode nos libertar desse ciclo vicioso de autoengano.

A mentira está no cerne de grande parte das patologias mentais, das desculpas que inventamos para evitar enfrentar a realidade e dos discursos vazios e contraditórios que proferimos. É fundamental que busquemos extirpar essa tendência mentirosa de nossas vidas de forma brutal.

No entanto, encontrar o equilíbrio nesse processo se faz essencial, mas exige trabalho. Devemos reconhecer nossos méritos e virtudes, mas sem cair na armadilha da arrogância e da presunção. Ao mesmo tempo, devemos encarar nossas fraquezas e limitações com humildade, sem nos depreciarmos ou nos colocarmos como vítimas indefesas.

A busca pela verdade interior é uma jornada constante e desafiadora. É um exercício de autoconhecimento profundo, que requer coragem para confrontar nossas próprias sombras e enfrentar nossos medos e fraquezas. Ao adotarmos uma postura de honestidade e autenticidade, estamos abrindo espaço para o crescimento pessoal e para uma vida mais plena e significativa.

A psicoterapia é um ambiente rico e fértil aonde podemos plantar e cultivar este processo de autoconhecimento. É desafiador como passar por um inverno intenso, mas é recompensador ao perceber o seu florescer na primavera.

Portanto, que possamos nos afastar das ilusões que nos impedem de enxergar quem realmente somos. Que possamos buscar a verdade, encarando nossas imperfeições com compaixão e aprendendo com elas. Somente assim poderemos nos libertar das correntes da mentira e da injustiça pessoal, abrindo caminho para uma vida mais autêntica e satisfatória.

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