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Foto do escritorNatale Molina

REGANHO DE PESO PÓS-BARIÁTRICA: PODEMOS EVITAR?

Atualizado: 13 de mar. de 2023

Obesidade é uma doença, cujo cid é E66, sua origem é multifatorial e causa várias comorbidades como questões psiquiátricas, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, complicações com covid 19, câncer, doenças hepáticas, e morte prematura, vivendo 10 a 15 anos menos que outras pessoas, portanto precisa de acompanhamento de alguns profissionais como médicos, psicólogo, nutricionista, educador físico...

Com ou sem comorbidades, obesidade em si já é doença.

Estima-se que 6,8% das mortes no mundo sejam atribuídas à obesidade, apesar de ser a segunda maior causa de morte evitável no mundo, perde apenas para o tabagismo.

A cirurgia Bariátrica consegue, em boa parte dos pacientes, reduzir significativamente o peso e as também as comorbidades no primeiro e segundo ano pós cirurgia. Quando com orientação ela é uma excelente estratégia e salva muitas vidas.

O problema não é a cirurgia em si, mas sim como é realizado o processo até ela. A falta de orientação e de acompanhamento pré cirúrgico do paciente é que fazem com que os benefícios da cirurgia não sejam alcançados ou mantidos em sua plenitude.

Os pacientes precisam, na medida das suas possibilidades, mudado seus hábitos, comportamentos, pensamentos e, se conseguir, fazer alguma atividade física. Em caso de compulsão alimentar o paciente deverá entrar em remissão dos episódios compulsivos ou diminuir consideravelmente o comportamento, deverá ser orientado sobre como será sua vida após a cirurgia, medicamentos ou vitaminas que deverão ser usadas para sempre, possibilidades de suplementação venosa, e tantas outras orientações.

Existem alguns tipos de cirurgia bariátrica:

A menos invasiva, feita por laparoscopia é a banda gástrica ajustável. Um anel de silicone é colocado no estômago do paciente, na parte superior, como uma ampulheta, fazendo com que o paciente tenha uma saciedade precoce, uma medida restritiva, ajustável e reversível. O paciente, no entanto, pode apertar de segunda a sexta e afrouxar nos finais de semana, diminuindo os efeitos.

Outra opção é o Bypass gástrico em Y de Roux, pode ser feita por incisão ou laparoscopia, é o padrão ouro mundial, a cirurgia que tem mais evidências. É uma cirurgia mista, pois restringe o tamanho do estômago e cria uma desabsorção do intestino. Grampos são colocados no estômago, separando uma pequena parte (a que será a utilizada) do restante, e faz uma ligação em forma de Y no intestino delgado, criando uma ligação direta para o intestino.

Trata-se de padrão ouro por questões de resultados, no entanto o paciente não consegue obter todos os nutrientes necessários para seu corpo somente com comida, então precisará repor vitaminas para sempre via oral ou venosa.

No primeiro e segundo ano da cirurgia existem pacientes que perdem 50 kilos, 70 kilos... Perdas muito expressivas. Chamamos este período de lua de mel.

Então este é o momento que o paciente deve aproveitar para mudar o estilo de vida, tirar as guloseimas da sua rotina, aderir a uma alimentação mais saudável.

Após este período, o intestino ganha novas vilosidades, absorvendo muito mais os alimentos do que nos primeiros 2 anos. Então enquanto antes o paciente comia quase à vontade e não engordava, agora ele pode começar a ganhar peso se não mantiver uma dieta regrada.

Após 5 anos de cirurgia, em média, 30% dos pacientes apenas conseguem manter o peso. Considerando que manter o peso neste caso, seria ter um ganho de até 10kg.

Alguns estudos ainda mostram que 50% dos pacientes reganham todo peso perdido em 10 anos.

Mais um motivo para aproveitar a lua de mel da cirurgia para mudar hábitos.

Existe também a técnica Duodenal Switch, pouco utilizada atualmente. É uma cirurgia complexa que pode durar 7 horas, aumentando as chances de complicações cirúrgicas. Nesta técnica algo em torno de 60 a 80% do estômago é retirado, além de também fazer um desvio intestinal.

A técnica que não é cirúrgica é a do Balão Intragástrico. Procedimento feito por uma endoscopia. Coloca-se um balão inflado no estômago do paciente, com o intuito de ocupar o espaço da comida, fazendo com que o paciente tenha uma ingesta alimentar menor. Dentro deste balão tem uma substância chama azul de metileno, para que caso ele se rompa, o paciente vai urinar com uma coloração diferente. Neste caso deve ir ao hospital imediatamente. Nesta técnica o paciente também deve aproveitar o uso do balão para mudar seus hábitos, e então na retirada, já estar adaptado a um novo estilo de vida.

A cirurgia bariátrica é indicada para pacientes com obesidade grau 3, IMC acima de 40, ou pacientes com IMC a partir de 35 com comorbidades.

A cirurgia deve ser oferecida com cautela, nunca prematuramente. Ela é UM dos componentes do tratamento multidisciplinar. As avaliações médicas e psicológicas devem ser muito bem-feitas, para que a própria cirurgia seja muito mais bem sucedida, isto é, para o paciente alcançar e manter os benefícios da cirurgia.

Behavioral Predictors of Weight Regain after Bariatric Surgery, Jacqueline Odom 1, Kerstyn C Zalesin , Tamika L Washington , Wendy W Miller , Basílio Hakmeh , Danielle L Zaremba , Mohamed Altattan , Mamtha Balasubramaniam , Deborah S Gibbs , Kevin R Krause , David L Chengelis , Barry A Franklin , Peter A McCullough (Preditores comportamentais de reganho de peso após cirurgia bariátrica)

Neste artigo, é mostrado que os pacientes costumam confiar que a cirurgia vai curar a obesidade, e que ela em si já será suficiente independente de mudanças comportamentais necessárias para sustentar a perda desse peso. Infelizmente, isso não é verdade.

A crença de que a cirurgia cura a obesidade e que você nunca mais precisará se preocupar aumenta as chances de recuperar o peso.

Uma reestruturação é necessária. A alimentação irá mudar, a rotina, sono, deverá gerenciar stress e o ambiente obesogênico, estabelecer nova forma de regulação emocional, praticar atividade física, na terapia promover reestruturação cognitiva em relação à comida... É preciso muito trabalho no pré e pós cirúrgico.

Um dos maiores desafios pode vir justamente da falha nessas mudanças, falha na mudança do estilo de vida. Os estressores da vida desempenham um papel fundamental no sucesso da cirurgia.

Precisamos considerar os fatores que influenciam o processo e manejar isso da melhor forma possível no pré-operatório.

Este artigo se propôs a fazer uma pesquisa via e-mail e “correios”, para coletar dados e avaliar características comportamentais pós cirurgia bariátrica.

Essa pesquisa usou um Instrumento de Bem-estar Autorreferido, desenvolvido pelos pesquisadores desse estudo, BDI (escala Beck de Depressão), Pesquisa de controle dos impulsos, dentre outros questionários.

(Existem pesquisadores que acreditam, inclusive, que a obesidade entrará no DSM como Transtorno do controle dos impulsos, será?)

Nessa pesquisa tinham 1117 pacientes.

Os pesquisadores observaram que o reganho de peso após a cirurgia é comumente observado e até razoavelmente previsto por alguns comportamentos preditores, sendo eles:

- Dificuldade de controle dos impulsos, seja pelo Transtorno ou pelo hábito

- Comportamentos aditivos, especialmente uso de álcool

- Falta de automonitoramento (não se pesar e nem fazer diário alimentar)

- Pouco acompanhamento com a equipe multidisciplinar pós-operatório.

Também observaram, neste estudo, que quanto mais alto o BDI no pré-operatório, menor foi o reganho de peso. Concluindo que isso se deve porque o tratamento psicológico pré-operatório é muito intenso, fazendo com que o paciente já vá para cirurgia muito melhor.

Importante lembrar que este estudo foi realizado na Inglaterra, onde o acompanhamento é muito mais rígido e não permitem que o paciente opere sem ter melhoras expressivas no quadro depressivo. Em outros estudos, feitos em outros países, esse resultado é o oposto, quanto maior o quadro depressivo pré-operatório, maior o reganho de peso. Um ideal que poderíamos nos inspirar.

Sobre o abuso do álcool por pacientes bariátricos, nota-se que estes pacientes ficam mais sensíveis a ele, absorvendo mais o álcool, o que provavelmente facilita a dependência pós-cirurgia.

Não se trata de uma migração de compulsão, mas de um prazer que o paciente encontra na bebida, pois é líquido, facilitando o consumo e com menor quantidade já sente os efeitos, facilitando a adição. O aumento na sensibilidade do álcool foi relatado por 90% dos pacientes que fizeram Bypass Gástrico.

Recomenda-se que os pacientes façam abstinência de álcool no pós-operatório.

O auto-monitoramento é a pedra angular estabelecida para manutenção da perda de peso. As abordagens comportamentais para manutenção da perda de peso concentram-se na mudança de ambiente para modular os estímulos, reforçando hábitos saudáveis de alimentação e exercícios. O automonitoramento de alimentos e peso é parte integrante do controle comportamental do peso, aumentando a autoconsciência do paciente. Manter registros de alimentos e pesagens regulares são modelos para tal.

Outros componentes de auto-monitoramento podem ser: estabelecimento de metas, técnica de controle ambiental, estratégias cognitivas, comemoração dos sucessos, estabelecimento de limites e apoio social positivo.

A maior participação do paciente no programa multidisciplinar também provou que menos peso reganhavam, então é preciso manter a rotina de visitas ao médico e psicólogo.

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